segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Migalhas

Minha vocação
é recolher migalhas.
Com rara exceção,
alguém solidário
me oferece o pão.
Recolho os farelos
como um cão,
para os pequeninos
sentar-se à mesa como irmãos.
Se houvesse dignidade
não haveria solidão.
As migalhas assistenciais
não promovem o cidadão.
Sem justiça social
não haverá libertação.
Desencargo de consciência,
triste encenação.


domingo, 7 de dezembro de 2014

Loucura Profética

Ouço vozes
Desde sempre
Ouço vozes
Ouço o grito
Dos excluídos
Dos enfermos
O choro dos
Esfomeados
O grito sufocado
Do feto abortado
O grito da mulher
Violentada
O grito dos
Maltrapilhos
Estas vozes
Me perseguem
Ouço o berro
Do Cristo crucificado
Nos abandonados
A voz dos que
Não tem voz
Martirizados
Silenciados
Banalizados
Ouço o silêncio
Consciente
Permitindo
O grito do inocente



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Descaminho

Nas estradas que caminho,
alargo sempre os horizontes.
Não ando sozinho
e nem ando aos montes.
Há estradas que apenas
deixei meus rastos,
algumas tenho pena
por ter meu tempo gasto.
Aprendi com meu Pai
replicar a criação.
Quem vem e quem vai
leva sempre meu coração.
Nas estradas por onde andei
eu vivi e morri
e sempre ressuscitei.
Novos caminhos percorri.
O meu grande problema
é que ando na contramão.
Na vida tenho um lema:
a diferença é minha opção.
Nas estradas por onde ando
levo minhas certezas,
o tempo todo indagando.
Caminhar já é uma proeza.
Eu proclamo minha crença
nas estradas que caminho.
Onde existe indiferença
encontro meu descaminho.
Se me perdeu e me procura,
vai aonde não deseja estar.
Nos caminhos da amargura

vai poder me abraçar.