domingo, 11 de outubro de 2020

Cara necessário

Fiz tantas coisas na vida

E a sensação que tenho

É que não sou um especialista

A frase de Sócrates não dita

Faz um sentido grande em mim

"Eu sei que nada sei"

Acho que nada sei muito

E que nada muito produzi

Por isso não tenho demais 

Sou um cara necessário 

Destes que torna a vida

Um mundo comum

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Rejeição

Caminhar contra o vento,

meu passeio ao desalento.

Suportar “amigo” anônimo.

Andarilho com pseudônimo.

A minha amizade é a solidão.

Estou só em meio à multidão.

Não sei viver o mundo comum.

Não sei ser qualquer um.

Só sei que este é meu caminho.

Prefiro resolvido, andar sozinho.

 

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Fé Livre

Sou pedra

no sapato

da hipocrisia.

Cospem pedras,

planto flores.

Sou pedra

de construção

(não de castelo e

nem de catedrais),

de caminhos,

de pontes,

de abrigo.

Sou pedra

de reforma -

“até as pedras

mudam.”

Só não sou

pedra de ódio,

de muros.

“ Se espalham

pedradas,

me ocupo

de amor”.

Sou pedra

de crenças

lapidadas.

Quem anda

com pedras,

não venha

por favor.

Ando leve...

não carrego

pedras.

Levo a alma

leve, como

uma pena

ao vento.

Livre.

 

sábado, 15 de agosto de 2020

Gratidão

Plante uma flor,

cuide dela com carinho;

ao desabrochar linda,

lhe trará uma satisfação 

em forma de agradecimento.

O que provocará uma sensação

de realização e alegria.

Se quiser agradecer alguém,

ou mesmo a Deus,

esqueça as palavras...

Desabroche em sorriso 

e faça sorrir a quem precisa. 

A melhor gratidão 

é retribuir o bem recebido.


sábado, 1 de agosto de 2020

Deus Ė

Se desejo criar deus
Ou negar os existentes
Inventar conceitos divinos
Construir novos conceitos
Destruir ou reformar antigos
Se desejo criar nova religião
Ou negar as existentes
Não... não quero criar deuses
Não... não quero reiventar a roda
Não tenho tamanha pretensão
De criar um deus
À imagem e semelhança
Dos meus gostos e verdades
Serei católico dos meus pais
E que cada um seja o que for
Tenha a espiritualidade do amor
Eu não quero inventar nada
Que de tão grande não se defini
Que de tão complexo
Se faça qual mistério
Que mesmo entendido
Não pode ser acabado
Gosto do deus poeta
Que se esconde nos gestos
Dos versos controversos
Que só deve ser interpretado 
Com a alma de poeta
Meu deus é poesia
Minha fé já não pergunta
Não reclama e nem espera
É apenas gratidão
Em forma de solidariedade
O sorriso entre um olhar triste
É a resposta em poemas
Não quero um deus
Que justifique meus erros

sábado, 25 de julho de 2020

Santinho no Purgatório



Ângelo era um jovem religioso,
morreu e foi para o céu.
Não pelo fato de ser religioso,
mas Deus é bom.
Chegou lá e já mostrou sua especialidade.
Teceu a ladainha religiosa de costume,
encheu Deus de adoração e louvor.
Entusiasmado disse que fez por merecer.
Participante assíduo da missa.
Frequentador de poderosos cercos jericós.
Amigo do padre estrela e bispo famoso.
Rezador de terços e grupos de orações.
Leitor assíduo da bíblia e livros espirituais.
E, por fim, após horas nesta entoada,
finalizou com a seguinte afirmação:
Posso entrar no céu para ver como é?
Deus disse que com certeza sim,
Mas....
Antes teria que passar pelo purgatório.
Como assim, frustrado perguntou o jovem.
Vou ter que sofrer no purgatório?
Eu cumpri toda a lei religiosamente!
Deus, então disse que no céu
apenas entram os que possuem
uma consciência plena do amor.
Que amor e religiosidade
não são as mesmas coisas.
Quem ama é um bom cristão,
mas nem todo religioso
necessariamente é um bom cristão.
O jovem, triste então perguntou:
Que farei no purgatório?
Deus disse com olhar de misericórdia.
Vai olhar a miséria do mundo,
como um filme, onde será o protagonista.
E vai conseguir enxergar sua omissão
e o quanto mal ela causou e poderia evitar.
Depois poderá entrar no céu,
pois o céu só pode ser sentido e entendido
por quem religiosamente fez do amor
sua profissão de fé.
O jovem, mesmo triste respirou aliviado
 e num momento de desabafo, disse:
Achei que iria queimar no purgatório.
Deus o olhou com pena, e disse:
Se prepare, sua dor será maior
que o fogo que queima.
Não há dor maior
que a dor de consciência.
De saber que viveu uma vida inteira
sem ter cumprido sua missão.
O jovem partiu para o purgatório
sem entender e aceitar bem a situação.
Mas não tinha culpa, foi ensinado assim.
Por isso pôde ir ao purgatório.
Deus o abraçou e disse até logo.
Neste momento, Deus sempre pensa:
Que sabedoria esta invenção
do purgatório!
E o jovem chorou naquele lugar
um lamento que nunca teve.
Uma dor que nunca carregou.
Descobriu a verdade tardia.
Num tempo onde não podia
fazer mais nada.
Lá no purgatório,
encontrou um dos mestres religiosos
que não o olhou no rosto.
Juntos, choravam separados,
a cada dor humana que sua
religiosidade não evitou e até  provocou.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Carolina Maria de Jesus


Eu não frequento
o altar dos santos,
feito de mármore,
das preces
dos religiosos
preceitos
e leis frias.
O altar
que me curvo,
fica nas periferias
da vida.
Da vida sofrida
pela fome,
pela dor,
pela ausência
de amor.
Neste altar,
que me prostro.
Não me canonize
em centros sacros.
Me leve no profano
dos lábios impuros,
onde brota o grito
e manifestações
dos excluídos.
Minha prece
é poesia.
Sou Carolina,
Mulher do Povo.
Sou Maria Preta,
Maria Sapatão,
Maria pobre,
Maria favelada.
Sou a divina
Maria de Jesus.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Morte Feliz


Se morreu...
Teve Vida.
Se viveu...
Teve Graça.
Já dizia o poeta:
“Que o amor
Seja eterno
Enquanto dure”.
Quero bem viver
Para morrer feliz.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pandemia



Em tempos de carestia
A fome tem fisionomia
Não é discurso de filosofia
Não se enfrenta a pandemia
Com palavras de fantasia
O outro é eucaristia
Na igreja de periferia
O sofrimento gera empatia
A fé não é magia
A presença é alegria
O pão é companhia
A ausência é covardia
A reza egoísta e fria
Não enche a panela vazia
Não se faz economia
Com a burguesia
O amor pede rebeldia
A dor pede martiria.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Saudades

Que poder que tinham...
Não me refiro quando eu
os olhava de baixo para cima.
Nem quando olhei na mesma altura,
ou quando ajoelhava para os olhar
na cadeira de roda ou na cama, abatidos.
Falo do poder que descobri
só quando não podia mais olhar.